segunda-feira, 16 de julho de 2012

CIENTOLOGIA, UMA CRENÇA DE OUTRA GALÁXIA


Publicado em 09.07.2012

Imagine se o cineasta George Lucas criasse uma religião com preceitos tão mirabolantes quanto o enredo da série Guerra nas Estrelas. Ou se um guru de auto-ajuda inventasse uma seita em que seus bestsellers seriam elevados a escrituras sagradas. Imagine ainda uma junção dessas duas coisas. Pois algo bem parecido existe: a Igreja da Cientologia, crença que conquistou celebridades como os atores Tom Cruise, John Travolta e Juliette Lewis, o cantor de soul Isaac Hayes e Lisa Marie Presley, filha de Elvis. A cientologia foi fundada nos anos 50 pelo americano L. Ron Hubbard, autor de livros baratos de ficção científica e de obras de aconselhamento que alardeiam os poderes da mente. Morto em 1986, ele pregava que o homem é um ser imortal com capacidades espirituais ilimitadas, mas precisa "limpar" sua mente dos traumas que viveu nesta e em outras encarnações para desenvolvê-la. A cientologia admite que seus adeptos também sigam outras fés. Seu grande inimigo está em outro campo: são as idéias de Sigmund Freud e da psiquiatria moderna. Ela condena, por exemplo, o uso de remédios como os antidepressivos. Volta e meia, a religião entra na mira da imprensa e das autoridades americanas. Já foi acusada de fazer lavagem cerebral e explorar os fiéis. Mas a igreja conta com defensores em pontos tão estratégicos quanto o mercado financeiro e o governo americano. Além, é claro, de ter garotos-propaganda como Cruise. "A cientologia mostra como mudar uma sociedade na qual as pessoas são ensinadas a odiar", disse o ator a VEJA numa entrevista precedida por um tour de cinco horas pela sede mundial da seita, em Hollywood.
A cientologia tem 8 milhões de seguidores em 150 países, segundo seus líderes - há quem estime, contudo, que o número não passa de 100.000. A maioria dos adeptos está nos Estados Unidos, mas a igreja vem crescendo internacionalmente. Isso é visível em eventos como a inauguração de sua nova sede na Espanha, no ano passado, num grande edifício de Madri. Ou nos 137 centros de recuperação de dependentes de drogas que a igreja mantém em 37 países - inclusive na periferia de São Paulo, seu principal ponto de referência no Brasil. "A cientologia tem pouco mais de cinqüenta anos e não pára de crescer. Por isso é atacada", diz Lee Anne DeVette, irmã mais velha e relações-públicas de Tom Cruise.
A cientologia se define como uma religião que prega o uso do poder da mente para driblar sofrimentos da vida moderna, como o estresse, a ansiedade, a agressividade e o pessimismo. A prática é baseada na teoria Dianética, criada pelo pelo fundador da cientologia, o escritor de ficção científica L. Ron Hubbarb, em 1954. A seita acredita que o homem é um ser imortal que passa por diversas experiências até atingir a iluminação. Críticos da cientologia a definem como uma organização que vende serviços de autoajuda e livros sob a fachada de religião. 
O ator descobriu a igreja no começo da carreira. Diagnosticado como disléxico na infância, ele diz ter encontrado nela uma forma de superar o trauma. “É errado rotular crianças com qualquer doença psicológica”, diz ele. Nos últimos tempos, Cruise tem pautado suas aparições públicas pelo esforço de divulgar a cientologia — e levar adiante seus ataques sistemáticos a Freud e à indústria farmacêutica. Já discutiu por causa dela com dois repórteres da revista alemã Der Spiegel e com o apresentador americano Matt Lauer. Numa entrevista, condenou a atriz Brooke Shields por ter usado antidepressivos para tratar da depressão pós-parto (ela deveria ter se tratado à base de exercícios e vitaminas, sugeriu). Recentemente, Cruise voltou à carga numa entrevista à revista Entertainment Weekly. Sobre os livros de cientologia se referirem à psiquiatria como uma “ciência nazista”, saiu-se com esta: “Basta olhar a história. Jung (teórico da psicologia) foi editor de um jornal nazista durante a II Guerra Mundial”. A revista consultou um especialista na obra junguiana, Aryeh Maidenbaum, que qualificou de absurda a afirmação. A associação entre a psicologia e o nazismo tem mesmo alto teor de ridículo. Freud, afinal, era judeu e teve de fugir da Áustria para não cair nas mãos dos seguidores de Hitler. Outro que já disse e fez bobagens por causa de sua crença é John Travolta. Cinco anos atrás, ele protagonizou A Reconquista, um dos filmes mais deprimentes de todos os tempos. Ficção científica sobre ETs que escravizam os humanos, ele se baseia nas idéias da religião.
Lee Anne ciceroneia pessoalmente os jornalistas que visitam o Celebrity Centre International — o centro que ocupa um palacete que nos anos 30 foi um hotel que abrigava estrelas de Hollywood. “Nossa intenção é mostrar a verdade sobre a cientologia, já que a imprensa mundial tem nos interpretado mal”, diz ela. Lá, os convidados têm de assistir a um DVD contendo um discurso do principal líder da seita, David Miscavige. Miscavige fala da importância das ações da igreja na educação, filantropia e direitos humanos. Discorre ainda sobre seu trabalho com presidiários e suas guerras contra a indústria farmacêutica e as drogas. A excursão pela sede da igreja inclui refeições agradáveis — e conversas idem com seus ministros. A certa altura, o jornalista é convidado a avaliar seu nível de stress. Ao fim do teste, um voluntário de plantão pergunta se a pessoa deseja “se abrir” sobre seus problemas.
A cientologia ostenta uma cruz como símbolo, mas esta nada tem a ver com o ícone cristão. Sua versão do mito da criação também destoa das que foram consagradas pelas religiões tradicionais — ela faz jus, e como, à imaginação de autor de ficção científica de Hubbard. Resumidamente (a história tem detalhes obscuros, guardados como “revelações” pela igreja), cada pessoa abrigaria em seu corpo uma espécie de conglomerado de espíritos alienígenas — parte de uma população de bilhões deles que teriam sido transportados para a Terra 75 milhões de anos atrás, a mando de um líder intergaláctico maligno, Xenu. Essas entidades, que Hubbard batizou de “thetans”, teriam perdido consciência de sua imortalidade ao ganhar um invólucro indesejado — o corpo. A cientologia prega que só por meio do aperfeiçoamento oferecido pela religião se podem retirar as travas que impedem a evolução do espírito até sua plenitude — quando seria possível ter controle absoluto sobre a mente.
Hubbard afirmava que tudo o que ocorre de ruim na vida das pessoas fica arquivado naquilo que ele denominou de mente reativa. Para a cientologia, essa é a fonte de problemas como stress, ansiedade, depressão, agressividade e pessimismo. Uma das maneiras de a religião ganhar adeptos é o uso do eletropsicômetro, ou e-meter, aparelho que mede o stress com base numa tecnologia também usada em detectores de mentiras. O usuário segura duas barras de ferro ligadas ao aparelho. Em tese, o ponteiro do e-meter vaipara a direita ao detectar pensamentos estressantes. Caso contrário, vai para a esquerda. O teste é aplicado diariamente em passantes desavisados em lugares como a estação de metrô de Times Square, em Nova York. Uma vez fisgados, os fiéis têm de vencer uma série de etapas de aperfeiçoamento — a primeira é a desintoxicação química do corpo. Ocorre que os métodos da cientologia são patenteados como se fossem segredos industriais. Para evoluir, o fiel tem de fazer mais e mais cursos que chegam a custar milhares de dólares. A igreja ameaça com processos quem divulga o conteúdo desses cursos. E avisa que conhecer essas “revelações” de forma inadequada pode levar os incautos à morte por pneumonia. Melhor ficar longe.
Proliferam histórias de gente que teve de vender a própria casa para satisfazer sua necessidade de freqüentar os cursos da seita. Registram-se episódios trágicos, como o do jovem americano Noah Lottick, que cometeu suicídio aos 24 anos, na década de 1990. Ele mergulhou do 10º andar de um hotel de Nova York sobre uma limusine, tendo nas mãos 171 dólares — toda a quantia que lhe restou depois de doar sua conta bancária à igreja. A seita é acusada de falsear dados para se promover. Os cientologistas afirmam que Dianética, um manual de auto-ajuda de Hubbard, foi best-seller durante quatro décadas. Há indícios, porém, de que a própria igreja comprava a obra em grandes quantidades para mantê-la nas listas dos mais vendidos. Descrito como um homem brilhante e iluminado, Hubbard na verdade obteve um diploma falso de doutorado e teria concebido parte de suas teorias sob o efeito de drogas e álcool. Depois de sua morte, ele foi submetido a uma autópsia. Havia uma alta dose de calmante em seu sangue. 

Fonte: VEJA 03/07/2012

Postagem extraída no site: http://www.institutojetro.com/Noticias/cientologia_uma_crenca_de_outra_galaxia.html

segunda-feira, 9 de julho de 2012

ALERTA APOLOGÉTICO


Modismos neopentecostais ultrapassam barreiras do protestantismo

Algumas igrejas evangélicas, conhecidas como igrejas neopentecostais, ultrapassaram as barreiras da esfera do protestantismo e as estão à beira do caminho da heresia, afirma um apologista cristão. O pastor João Flávio Martinez, presidente do Centro Apologético Cristão de Pesquisas traz à tona a questão das igrejas que “na teoria tem confissão de fé evangélica, mas na prática se assemelham mais a uma seita”.
Em uma pregação Martinez fala sobre os modismos pentecostais, citando alguns nomes de líderes conhecidos de âmbito nacional como o bispo Edir Macedo, missionário RR Soares, Sônia e Estevam Hernandes, entre outros.
Igrejas como a Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD) também são apontadas como possuindo práticas e ensinamentos que são estranhas ao Evangelho. O apologista afirma que o líder desse movimento chegou a colocar Jesus no nível de “criatura”.
“Muita gente pela tradição da religião, não entende a historia de Jesus. Alguns falam de natal, mas ninguém sabe o dia exato em que Jesus Cristo nasceu. Segundo que Jesus já existia muito antes de tudo. Ele é a imagem do Deus invisível, a encarnação do verbo.Mas ele não é sempiterno, é eterno. O pai que é Deus é sempiterno, aquele que antes dele nunca existiu como ele, nem existirá depois dele, sempre existiu e sempre existirá. A primeira obra dele foi Jesus Cristo...”, citou João Flávio ao Valdemiro como falando em um de seus estudos bíblicos (veja aqui), ao The Christian Post.
Segundo o apologista isso é fruto da falta de embasamento teológico que fundamenta esses movimentos, das quais ele chama de "movimentos contraditórios".Martinez ainda alerta que eles (tais movimentos como a da IMPD) tem transformado a Igreja Brasileira em uma instituição que preza mais a criatura que o Criador, ou seja, que serve mais ao homem e menos a Deus.
“Os crentes são de vida espiritual supérflua e sem profundidade. A maioria das práticas de igrejas como essa não passa de ‘macumba evangélica’ e não cristianismo Bíblico.”
Pastor João Flávio urge que os fiéis “procurem uma igreja bíblica, fundamentada nos princípios da Reforma, fundamentada em Cristo e na sua Palavra”. “Procurem o evangelho da Cruz e não o evangelho do diabo travestido de culto aos anjos. É preciso que os que querem servir Jesus entendam que Deus nos chama para a fidelidade e não para o hedonismo”, afirmou com indignação ao CP.

Postagem extraída do site: http://www.creio.com.br/2008/noticias01.asp?noticia=18816

segunda-feira, 2 de julho de 2012

A BÍBLIA NA RIO + 20


A Bíblia é uma coletânea de fatos e palavras que, conforme a fé das comunidades judaicas e cristãs, contêm revelação do amor de Deus pela humanidade. Porém, o cenário ideal do jardim onde o homem habita só foi chamado de “paraíso” nas versões medievais. Originalmente, nem o mundo foi criado por acaso, nem o homem. Este é um ser criado em permanente busca de identidade e sentido, mas a existência humana não é solitária, nem independente. O homem não está só, faz parte e está sujeito relacionalmente com o restante da criação. O resumo aponta: “ele não existe sem as demais criaturas”. Adam é filho de “adamah”. Filho da terra (Gn 2,7). Um rio brota do jardim para irrigar o jardim, o Éden é paráfrase da terra toda. A observação desse Universo não confirma o determinismo pretendido em nossos dias. E nem mesmo o pragmatismo pós-tecnológico.
A narrativa bíblica não levanta questionamentos sobre a existência do ser Criador, sua origem e razões que o levaram a criar o cosmo. Leis naturais rígidas não conferem com o cenário da criação, onde o pressuposto do Iluminismo é que cada astro, cada estrela, cada componente, funciona como um relógio, uma máquina movida por um combustível inesgotável e perpétuo. Alterado o projeto original pelo homem (Gn 3,17), que ousa interferir na originalidade da criação, este passará a ser juiz do bem e do mal. Arcará com as consequências: “E Yahweh-Deus expulsou o homem do jardim onde fora colocado. Baniu-o e colocou anjos como seguranças para impedi-lo de entrar”. Podemos compreender, portanto, que os autores do grande poema da criação já entendiam as intenções do homem de corromper a terra, enquanto corrompia-se a si mesmo pela ganância.
Com Andrés Queiruga, devo convencer-me de que as aparências, os significados do momento atual, inundado de informações científicas e teorias sobre o planeta Terra, devem ser reavaliados. A cosmovisão bíblica primitiva foi adulterada ao extremo, e nós somos os agentes racionais que dela nos distanciamos e, quando olhamos para traz, embora exista considerável diversidade de manifestações míticas, culturas conservadas dos muitos povos que interpretaram suas origens nos muitos lugares deste Planeta. Não vejo porque não ouvirmos as vozes que vêm de lá. A essência de um mito não é regida pela razão, mas pela consciência da importância do sagrado, o homem e o universo. Como utopia teológica, o Reino de Deus, consequentemente, e a justiça ambiental, formam moldura e quadro para um mundo novo possível.
Os sentimentos neles contidos, porém, como se encontra, refletem uma comunhão que abrange tanto os seres humanos como os demais seres da natureza. Tanto animados como inanimados. Natureza e mundo humano se fundem e se inter-relacionam. Humanos se veem como humanos, animais se veem como animais? Não. E os elementos como a Água e a Terra, como se veem? A Criação geme em dores de parto até agora (Rm 8,22). “Se geme, porque é violentada, podemos ouvir os seus gemidos?”, pergunta Walter Saas. 
É exacerbada a importância da natureza, quando desviada para o bem-estar artificial. Turismo ecológico, por exemplo. Por que necessitamos de celulares multifuncionais, capazes de fotografar belezas incríveis no meio da floresta, se eles não atendem às necessidades dos milhões que padecem da fome, das endemias, da exclusão? Lemos informes científicos populares, e só vemos deslumbramento sobre a era pós-tecnológica. O Ocidente, campeão das novas tecnologias, prossegue na globalização da miséria enquanto sustenta a acumulação de bens como panaceia de salvação. E não poupa o planeta, depreda-o enquanto vai esgotando suas riquezas naturais, como a água. Privilegiados no uso das tecnologias para o conforto e bem-estar existentes são apenas 25 %, provavelmente, dos 7 bilhões de habitantes do planeta. O caminho certo é, evidentemente, também reduzir ao máximo a emissão desses gases poluentes, substituindo os motores movidos a petróleo por outros, movidos à eletricidade. Não acreditamos que alguém, em sã consciência, se oponha a isso, em acordo com Ferreira Gullar. 
A dificuldade, portanto, não está aí e, sim, na substituição dos seres vivos por máquinas poluidoras. Leiamos, “substituição do ser humano pelos sonhos de consumo deste século”. Oferecem bem-estar localizado para ricos, tecnologias eletrônicas avançadas, saúde e medicina de alto preço, educação para postos de trabalho privilegiados, lazer de alto custo e alcance territorial. Porém, há 5,5 bilhões de deserdados ameaçados pela barbárie tecnocrática e 2 bilhões morrem de fome e brevemente perecerão de sede se a contaminação ou esgotamento de mananciais formados através de milhões de anos prosseguirem no ritmo atual. 
O capitalismo alcançou a água, mas cooptou, como sempre, na história do mundo, a religião que defende o lucro e resultados financeiros. Tudo é produto de mercado. Tudo se vende. Tudo é feito mercadoria. Tudo é consumível. Faz-se muito dinheiro também com a religião, como se a parábola das moedas escondidas resumisse o Reino de Deus. Não é a toa que a recente força evangélica pentecostal que mais influencia a religião histórica dedica-se tão intensamente à mídia e ao potencial mercadológico das multidões. A massificação religiosa dá lucro. 
É preciso olhar para o chão, portanto. O Planeta se torna cada vez mais inviável. O atual modelo de desenvolvimento, apoiado no sistema liberal capitalista e na orientação que se dá aos conhecimentos científicos, aponta para uma determinada visão de homem, da natureza e da razão. Desenvolvimento sem sustentação da biodiversidade. Em última instância, a causa primeira está no antropocentrismo ocidental, certamente ajudado por uma inadequada interpretação da tradição judaico-cristã, que tende a fazer do ser humano mais um “dominador” e explorador da Criação, do que seu “guardião”. Seria melhor dizer “jardineiro”. Enquanto isso, justifica-se a interpretação espiritualista abstrata como uma “queda de braço” com Deus. O homem perde, mas se vinga destruindo a criação (cf. início).
A questão, portanto, não pertence ao mundo da técnica, mas ao mundo da ética. Estamos diante de uma questão antropológica. Bíblica? Certamente, porque há uma tradição libertária, do homem e da terra, ali refletida, que nos acompanha desde quatro milênios. A sobrevivência do homem está na pauta das lutas ecológico-ambientais. Nas palavras de Edgar Morin: “urge uma nova Antropologia, bem como uma nova Teologia, capaz de restaurar o ser humano no conjunto da obra da Criação”. Uma nova racionalidade que integre as ciências, inclusive a espiritualidade inteligente voltada para o planeta, e outros tipos de razão, é bem-vinda. A Humanidade e a Criação total agradecerão. A cordialidade, o cuidado com o ser humano total e o mundo criado, a compreensão ecumênica da salvação do planeta, estão na pauta da espiritualidade ecológica em absoluta prioridade.

Derval Dasilio
É pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor do livro “O Dragão que Habita em Nós” (2010).

Postagem extraída do site: http://www.ultimato.com.br/conteudo/a-biblia-na-rio-20